Museu de Arte Murilo Mendes | MAMM

Grafias e múltiplos – “Os amigos da gravura”

Sobre o projeto Os Amigos da Gravura

Em 1952 Raymundo de Castro Maya criou a sociedade “Os Amigos da Gravura”, com o objetivo de democratizar e popularizar o acesso à arte, bem como incentivar a produção gráfica brasileira, até então pouco reconhecida como expressão artística.

A sociedade funcionou por quase 10 anos selecionando e convidando importantes artistas para a produção de gravuras que teriam uma tiragem limitada a 100 exemplares. As cópias eram distribuídas entre os sócios subscritores e instituições interessadas. Na época foram editadas gravuras de Fayga Ostrower, Oswaldo Goeldi, Percy Lau, Lívio Abramo, Darel Valença, entre outros.

Em 1992 os Museus Castro Maya retomaram a iniciativa de seu patrono com o projeto Amigos da Gravura, buscando incorporar a produção gravurista contemporânea às coleções deixadas por Castro Maya.

A cada ano, artistas são convidados a participar do projeto com a produção de uma obra inédita limitada a uma tiragem de 50 exemplares. A matriz dos trabalhos e um exemplar são incorporados ao acervo dos Museus Castro Maya. Uma parte da edição é distribuída para museus e instituições culturais parceiras.

O MAMM começou a receber as edições dos Amigos da Gravura em 1999, ainda como Centro de Estudos Murilo Mendes. Nestes 20 anos de parceria com os Museus Castro Maya, incorporou obras ao seu acervo de importantes nomes da arte contemporânea brasileira. Ao celebrar a grandeza deste projeto, apresentamos diversas grafias de gravuras, expandida ao conceito contemporâneo de múltiplos, desde as primeiras séries até as doações mais recentes.


Murilo Mendes viveu na cidade do Rio de Janeiro nos anos que coincidem com a iniciativa de Castro Maya junto a sociedade Os Amigos da Gravura. O poeta transitava entre os artistas modernistas e, desde então, as artes visuais tornaram-se elemento fundamental de sua produção literária.

Nesta mostra apresentamos excertos de textos que o poeta faz referências ao ofício da gravura e ao trabalho de importantes gravuristas brasileiros a exemplo de Fayga Ostrower, Lívio Abramo e Oswald Goeldi com os quais manteve amizade e incorporou obras à sua coleção particular.

 

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Homenagem a Osvaldo Goeldi

Osvaldo gravas:
A ti mesmo fiel, ao teu ofício,
Gravas a pobreza, o vento, a dissonância,
A rude comunhão dos homens no trabalho.
Gravas o abandonado, o triste, o único,


Osvado gravas,
Gravas qualquer solidão.
(…)
Atingindo agora a unidade,
Pela natureza vivionária
E pelo severo ofício
A tortura dominando,
Silêncio e solidão
Osvaldo gravas.

Parábola, 1946-1952


Fayga Ostrower e a gravura

O ofício de gravador é austero, não permitindo as digressões e surpresas do acaso, tantas vezes reservadas ao pintor. Pressupõe uma presença e uma vigilância muito lúcidas do artista, uma forte ação espiritual a equilibrar a vagareza com que a mão vai vencendo as resistências da matéria rude. Reclama um conhecimento objetivo do espaço a ser criado, devendo o artista evitar os pontos de desgaste, usando os próprios intervalos como elementos significativos da construção.

Todas estas qualidades positivas, além de outras, se encontram reunidas na personalidade de Fayga Ostrower que realiza há anos um acurado trabalho de filtragem de elementos impuros. (…)

Para Todos, Rio-São Paulo, ano I, n. 9, setembro de 1956.


Lívio Abramo

Lívio Abramo começou a gravar em madeira no ano de 1927. Foi o mestre Oswaldo Goeldi quem o inspirou, quem lhe deu a noção consciente de que nascera para gravar. Lívio dá testemunho, com a maior singeleza e humildade, do que deve a Goeldi – fato que aumenta Lívio Abramo e aumenta Oswaldo Goeldi. (…) Logo que se pôs a gravar e desenhar sentiu a necessidade de refletir nas suas obras o ambiente da nossa terra. Em 1933 iniciava o ciclo de Itapecerica. Depois o ciclo de arte social que, sob a fecunda influência dos expressionistas alemães, durou até 1937.

Letras e Artes, supl. de A Manhã, 29 de abril de 1951.