Museu de Arte Murilo Mendes | MAMM

Bigi – Homem da Itália, Artista do Brasil

Ao iniciarmos nossa pesquisa documental para esta exposição, deparamo-nos com um material especial no acervo do historiador Dormevilly Nóbrega, adquirido pela Pró-reitoria de Cultura da UFJF, e atualmente alocado no MAMM.

Entre alguns recortes de jornais, revistas, livros, catálogos – que logo trouxeram as primeiras informações –, tivemos uma profícua surpresa com um documento, em várias cópias, tendo no seu original correções manuscritas do próprio historiador. Na capa deste documento, em letras maiúsculas: “Bigi: Homem da Itália, Artista do Brasil”. Era o título da conferência proferida por Dormevilly na homenagem prestada a Ângelo Bigi meses depois de seu falecimento, ocorrido em janeiro de 1953, pela Associação de Cultura Ítalo-Brasileira de Juiz de Fora.

Assim, ao completar 60 anos de morte de Angelo Bigi, “italiano de sangue, mas com alma brasileira”, segundo depoimento do próprio, o MAMM apropria-se desta titulação e organiza esta mostra com o propósito de revisitar a obra deste grande artista, que, para muitos, fica restrita em sua particularidade de pinturas cenográficas, tendo o décor do Cine-Theatro Central como exemplo maior.

Contudo, a produção artística de Bigi vai muito além dessas alegorias parietais; suas pinturas de cavalete foram apreciadas e reconhecidas por críticos, historiadores e contemporâneos. Atestam essa afirmativa as menções e premiações recebidas em salões de artes, principalmente alguns realizados pela Escola Nacional de Belas-Artes, do Rio de Janeiro. Além das pinturas, Angelo Bigi trabalhou com ilustrações, como no livro de Gilberto de Alencar – Cidade do Sonho e da Melancolia –, e foi “seguro e cruel” com seu lápis na confecção de algumas caricaturas, encontradas em jornais e revistas de seu tempo.

O MAMM, na perspectiva de alargar seu acervo literário da região, cumpre também reconhecer a responsabilidade em propagar e possibilitar orientações no estudo das artes visuais destas cercanias, principalmente Juiz de Fora, que se destaca pela sua forte representação e vocação para a pintura.

Com todo este material reunido, principalmente com o carinho e o respeito de alguns colecionadores e familiares, vamos conviver com a beleza deste itinerário traçado dignamente por Bigi, e que dele jamais se afastou. E, seguindo as palavras do historiador Dormevilly, buscamos novamente em sua palestra-homenagem as palavras finais que confirmam esta firmeza de caráter e devoção pela arte: “[…] impulsionado pela vida, jogado ao meio destas paisagens impressionantes, fazendo-se decorador como recurso para o sustento de seu viver da arte, trabalhando com segurança o retrato, a paisagem, a composição, a natureza-morta, o artista não esperou que o povo subisse até ele: preferiu descer e encontrá-lo […]”.