Museu de Arte Murilo Mendes | MAMM

Exposição “O Papel do Poeta” revela a importância do papel para a história da arte

Manuscritos, gravuras, desenhos e pinturas integram a mostra “O Papel do Poeta” em cartaz até o dia 16 de março, na galeria Convergência do Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm). A exposição ilustra a importância do suporte de papel na coleção muriliana e traça um recorte temático com obras que colocam em evidência a posição do material como um dos protagonistas da Arte Moderna brasileira e internacional.

EROS MARTINS GONÇALVES, Sem título, 1948, Nanquim com pincel e grafite

EROS MARTINS GONÇALVES, Sem título, 1948, Nanquim com pincel e grafite

Para despertar a atenção do visitante para inúmeras aplicações do papel, a exposição é montada numa sequência que apresenta desde as funções mais corriqueiras até as mais intrigantes técnicas artísticas. O objetivo é contrastar a fragilidade do artigo com valor cultural  e de memória que ele guarda.

Dividida em seções, a exposição começa por manuscritos originais de Murilo Mendes, onde o papel é o confidente primeiro, espelho da consciência do escritor. Ali, o artista expõe suas reflexões e pensamentos, que mais tarde se tornam sua obra. Chamam a  atenção neste início trechos sobre a natureza da linguagem:  “…A poesia transborda das definições, seguindo caminhos que superam fronteiras…”, escreve Murilo.

Mais adiante, o visitante conhece os livros de interesse do poeta. Nas edições de “Dom Quixote” e “Os Lusíadas”, por exemplo, é possível acompanhar as passagens que chamaram sua atenção através de grifos e anotações à margem das páginas. Informações valiosas para conhecer Murilo Mendes, e oportunidade de aprender a ler com um verdadeiro homem de letras.

Ainda na seção de livros, as publicações ilustradas são o primeiro sinal de quando literatura e artes visuais se entremesclam. Um dos destaques da exposição é a parede ilustrada pelas gravuras originais de Francis Picabia, produzidas para a rara edição francesa do volume “Janela do Caos”. O artista, muito influenciado pelo impressionismo e fauvismo, foi associado posteriormente ao cubismo e surrealismo, embora seja mais conhecido como um dos idealizadores do movimento Dadaísta ou Dada, ao lado de figuras como Marcel Duchamp e Hans Richter.

Artes em papel

Na parte dedicada às obras de arte é que a materialidade do papel chega ao ápice e aparece com toda sua versatilidade. Recortada em desenhos, gravuras, colagens e pinturas, a seção ocupa a maior parte da exposição com 34 obras de artistas brasileiros e estrangeiros.

Dedicado especialmente à arte nacional, o recorte de desenho reúne dez peças de alto valor histórico para nosso modernismo. Há, por exemplo, uma peça da fase figurativa de Athos Bulcão de 1947, que difere completamente dos painéis abstratos e coloridos de Brasília que o consagraram. Assim como um estudo para série “Macumba” de Lívio Abramo. Na época, o trabalho chamou a atenção por conseguir expressar o caráter intenso da celebração, sem cair no tratamento folclórico ou galhofeiro que o tema costumava receber.

Trabalhos de Arnaldo Pedroso D’Horta de 1951 – ano que recebeu a premiação de melhor desenhista do país pela 2ª Bienal de São Paulo -, e ilustrações de Cândido Portinari para poemas de Murilo Mendes completam o recorte.

Nas gravuras, as variedades de técnicas mostram a capacidade criativa e de expressão dos representantes do abstracionismo geométrico europeu. Obras de Victor Vasarely, Nobuya Abe, Nicola Carrino, Pasquale Santoro, Shu Takahashi, entre outros, aparecem nas mais variadas formas de litogravura(pedra), xilo(madeira), calco(metal) e serigrafia.

NOBUYA ABE, Red animation, 1968, gravura

NOBUYA ABE, Red animation, 1968, gravura

NICOLA CARRINO, Beta, 1968, gravura

NICOLA CARRINO, Beta, 1968, gravura

SHU TAKAHASHI, Sem título, 1970, serigrafia

SHU TAKAHASHI, Sem título, 1970, serigrafia

 

A tendência ao abstrato também prevalece nas pinturas, embora a proeminência, neste caso, seja dos chamados abstratos informais (não geométricos). Também nas pinturas se encontram dois figurativos importantes. O primeiro é uma pintura sobre colagem da artista portuguesa Vieira da Silva e o segundo um suposto retrato da viúva de Mendes, feito por Genaro Vidal.

VIEIRA DA SILVA, Sem título, 1941, guache e colagem e cartão

A obra de Vieira chama atenção pela técnica: a artista consegue encobrir a colagem de suporte em todo trabalho, e, propositadamente, deixa transparecer o material no centro, perto da figura de uma mulher ao piano.

O menor recorte, porém, com toda a certeza, não menos importante, é o de colagens. Entre as quatro obras que compõem o setor encontra-se um trabalho de Alberto Magnelli – pedaços de revistas, em formato de notas musicais, sobre uma pauta  – com qual o artista presenteou Murilo Mendes. A obra participou de uma exposição comemorativa sobre Magnelli, em 1989, no Museu Nacional de Arte Moderna da França.

Ao mostrar parte do universo muriliano misturando diversas formas de uso do papel, a exposição aponta para a importância deste material como um meio de registro textual e iconográfico para a humanidade. “O Papel do Poeta” fica em cartaz na Galeria Convergência até o dia 16 de março.

 

Serviço

Exposição “O Papel do Poeta”Curadoria: Afonso RodriguesAbertura: 18 de dezembroPrevisão de encerramento: 16 de marçoVisitação:  de terça a sexta, das 9h às 18hsábados, domingos e feriados, das 13h às 18h

Local: Rua Benjamin Constant, 790, Centro – Museu de Arte Murilo Mendes

Entrada Franca

Outras informações: 3229-7650

 

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