Museu de Arte Murilo Mendes | MAMM
Com a proposta de levantar perguntas e intervir em diferentes estratos sociais, a “31ª Bienal de São Paulo – Como (…) coisas que não existem – Obras Selecionadas” chega ao Museu de Arte Murilo Mendes(MAMM) dia 9 de abril, quinta-feira, às 20h apresentando o elo inexorável entre ação e reflexão. Nas 25 obras, de seis artistas estrangeiros, que integram a itinerância em Juiz de Fora, a mostra debate as maneiras pelas quais é possível abrir caminhos para os dilemas sociais contemporâneos.
A equipe de curadores formada por Charles Esche, Pablo Lafuente, Nuria Enguita Mayo, Galit Eilat e Oren Sagiv deu foco às questões da atualidade e reuniu obras que tocaram particularmente aspectos de religião, conflito social, sexualidade, ecologia e identidade. A exposição reuniu no Pavilhão da Bienal 250 trabalhos de cerca de cem participantes de todo o mundo.No MAMM, o recorte da mostra fica em cartaz até 31 de maio com o seguinte o horário de visitação: terça a sexta, das 9h às 18h, e finais de semana e feriados, das 13h às 18h.
Artistas e Projetos
A diversidade de forma e conteúdo dos trabalhos por si só indica a abrangência de problemas e situações críticas que a mostra aborda, com o importante adendo que nenhuma é plenamente classificável dentro de um mesmo gênero. Em situações de crise ficar dentro dos padrões não parece ser uma opção.
A aparente pintura tradicional do artista português Bruno Pacheco retratando situações de aglomeração sugere – mas nunca não diz com certeza do quê realmente se trata – desde protestos até ações coletivas nas quais é possível ver confraternização e festejo. As quatro telas incorporam elementos fotográficos para realizar um estudo de movimentos em grupo no qual é possível notar ações em conjunto voltadas para um mesmo objetivo, todavia sem centro agente identificável. Neste sentido, a obra faz referência aos inúmeros protestos e coletivas que acontecem pelo mundo.
Por sua vez o fanzine “Justice for aliens” (Justiça para os alienígenas), da polonesa Agnieszka Piksa, mistura os mundos da ficção científica e ícones, totens e símbolos tribais, através de colagens, para questionar a relação, nem sempre amistosa, entre os diferentes povos. Em uma das páginas da obra ocorre a pergunta : – “Por que os alienígenas são sempre feios, maus e inimigos dos seres humanos?” -. A artista indaga o porquê, muitas vezes, em culturas tribais o desconhecido e a alteridade eram retratados com reverência enquanto no mundo moderno prevalece a ideia de imposição e da conquista de uma cultura pela outra.
Se em Piksa o mote da discussão é o estranhamento de outra cultura, no trabalho da turca Gülsun Karamustafa os elementos híbridos dentro de um mesmo país são o cerne do pensamento. A artista constrói uma colagem têxtil de sete metros de comprimento chamada Resimli Tarih (História Ilustrada). A obra semelhante a um caftã – túnica símbolo da opulência do Império Otomano – costura ilustrações, carregadas nas cores, de vegetações, animais, califas e palácios suntuosos em tecido de qualidade duvidosa, encontrados nos mercados populares de Istambul.
Por detrás da obra está a história de modernização da Turquia, durante a fase da migração dos povos rurais para as cidades. Nesse período, o embate entre migrantes e habitantes urbanos gerou um nicho cultural apelidado de arabesk – referência ao genêro de influência asiática apreciado, em via de regra, pelos novos moradores da cidade. O arabesk, que é a base material do trabalho de Gülsün, é uma espécie de kitsch, obra na qual se misturam elementos de alta cultura, dissolvidos de seu conteúdo originário, para consumo das massas. No caso da artista, seus trabalhos lhe renderam o epíteto pouco lisonjeiro de “pintora de arabescos” e a exclusão do círculo de intelectuais de classe média, ao qual pertencia.
Em outra obra da artista também exposta no MAMM, o assunto do trânsito populacional reaparece, mas desta vez com foco no impacto sobre as vidas de pessoas comuns. Na vídeo-instalação “Muhacir” (Migrante), Karamustafa revela a situação de êxodo forçado vivido por muitas pessoas que enfrentam os inúmeros conflitos na região dos Bálcãs.
O filme mostra as trajetórias de vida de duas mulheres, uma saindo da região da Criméia, e outra partindo da Bósnia e Herzegovina, até chegar a Istambul. Ambas carregam cartões postais de suas respectivas terras de origem. No transcorrer das cenas, o vídeo apresenta a necessidade de desvencilhamento de seus pertences para sobreviver em outra parte, distante da sua identidade social e cultural.
Destaque para montagem da obra. A fronteira entre os países é representada, metaforicamente, pelos limites físicos entre os dois telões, um perpendicular ao outro, que exibem a trajetória das personagens de maneira simultânea. Duas telas para mostrar, cada uma a seu tempo, duas origens e histórias de vidas diferentes que, em razão da guerra, se encontram num mesmo local de chegada: Istambul.
A condição marginal de alguns estamentos sociais também é tema de outra turca, Nilbar Güres. Mas as coincidências entre as conterrâneas param nesse ponto. No caso de Nilbar, os meios de expressão são o bordado, o tecido e o papel que se conjugam numa técnica mista de colagem tradicional e tessitura. Initulada “Candle Light, Monstera Deliciosa and Candomble” [ Luz de vela, Monstera Deliciosa – planta nativa do México conhecida no Brasil como Costela de Adão – e Candomblé] , a obra realiza um jogo de luz e sombra através do qual constrói elementos oníricos, ricos em vitalidade e erotismo, que servem de ferramenta crítica a toda forma de repressão a liberdade sexual.
Conquanto na obra de Güres a linguagem constitui ao mesmo tempo meio e objeto de expressão, na série “Imponderáveis”, da colombiana Johanna Calle, materiais banais como arames são a base para analogias e construções simbólicas que afetam, de algum modo, todas as pessoas do globo. No trabalho, estendidos sobre um cartão, arames formam desenhos reticulares que aludem à arquitetura de prédios das grandes cidades e grades.
Em algum ponto do desenho a continuidade das linhas se rompe causando a desestruturação do sistema. Detalhe importante é que o conjunto é montado nos moldes de livros de contabilidade. Nesse contexto é inevitável a alusão a um colapso econômico ou crise financeira que abala as estruturas tanto de ricos quanto de pobres. O planejamento e controle total do dinheiro estão a mercê do imponderável.
A discussão de forma e conteúdo também está presente na série “Bert Flint” da artista espanhola Teresa Lanceta. No trabalho, Lanceta mergulha em comunidades tecedoras do Médio Atlas marroquino e de Granada, cujas tradições têxteis embasam sua proposta pessoal para participar de um descobrimento coletivo, silencioso, que facilita às pessoas viverem, comunicarem-se e permanecerem.
Nesse caso o processo criativo e obra formam uma metalinguagem na qual o meio é também a mensagem. O processo têxtil que a artista se refere é realizado em várias etapas e por diversas pessoas até chegar a finalização. Metáfora da união de forças dentro da comunidade para chegar ao objetivo comum dos indivíduos que a integram.
Educativo
Além da vinda da itinerância da “31ª Bienal – Como(…) coisas que não existem – Obras Selecionadas”, a equipe do Educativo da Fundação Bienal realiza um treinamento especial com professores e público interessado em conhecer melhor as propostas pedagógicas da mostra no dia 8 de abril, às 19h.
No encontro os arte-educadores aprofundam os conceitos e ideias presentes nas obras em exposição, conversam com o público sobre questões levantadas e realizam uma oficina.
Para participar, os interessados devem se inscrever com antecedência aqui. A inscrição é gratuita.
Itinerância
O programa de exposições itinerantes da 31ª Bienal contempla seis cidades do Brasil e uma no exterior. Diferentes recortes da mostra “Como (…) coisas que não existem”, que em 2014 recebeu 470 mil visitantes na capital paulista, serão expostos em São José dos Campos, Campinas, Juiz de Fora, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Belo Horizonte e Porto, em Portugal.
O MAMM recebe a mostra desde a fundação de seu programa de itinerância em 2011, na 29ª edição da mostra.
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Serviço
31ª Bienal de São Paulo – Como (…) coisas que não existem – Obras Selecionadas Abertura: 9 de abril (quinta-feira) Encerramento: 31 de maio (domingo) Visitação: de terça a sexta, das 9h às 18h sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h Oficina com professores(Educativo) Data: 8 de abril Horário: 20h Local: Rua Benjamin Constant, 790, Centro – Museu de Arte Murilo Mendes Entrada Franca Outras informações: 3229-7650 |