“Acervo em Diálogo” apresenta coleções paralelas do MAMM

Ricardo Cristófaro – Sem título madeira e ferro

No ano de seu décimo aniversário, o Museu de Arte Murilo Mendes(MAMM) dá continuidade a montagem de exposições que apresentam sua trajetória e lançam sinal de seu futuro. A mostra “Acervo em Diálogo” expõe 13 trabalhos de 12 artistas brasileiros que revelam tendências da arte contemporânea brasileira em sintonia com a tradição modernista.

Constituída primordialmente por pinturas, esculturas e objetos artísticos em técnica mista, a maior parte das obras foi doada ao MAMM por ocasião de exposições de seus autores no Museu. É o caso, por exemplo, dos trabalhos de Paulo Miranda, Hélio Siqueira e Valéria Faria. No entanto, há obras que foram incorporadas por seu significativo valor histórico e estético, como  no caso das duas Litografias de Fayga Ostrower e nas obras de Arlindo Daibert e Leonino Leão.

Interessante notar como os trabalhos contemporâneos complementam naturalmente nuances e estilos presentes na coleção de artes visuais do poeta Murilo Mendes. Idealizada pelos setores de Museologia e Preservação, o objetivo maior da exposição é mostrar, por um lado, o aspecto dinâmico do Museu, sua capacidade e necessidade de entender seu acervo e ao mesmo tempo perceber como ele se encaixa e dialoga com que há de novo.

Com efeito, a diversidade técnica e os conceitos das obras muitas vezes atualizam a ideia muriliana da arte que transcende seus limites e busca incorporar elementos de diferentes realidades.

A  riqueza intertextual é outro elemento marcante. A interpretação dos poemas de Murilo Mendes inspira os trabalhos de forma literal, como nos ossos de borboleta do “Desenho para Murilo Mendes” de André Burian e na “Luva” de Marcos Coelho Benjamin. Por outro lado,  “Algumas Histórias do Brasil” de Leila Danziger transcreve e interpreta num tom de crítica social o conteúdo satírico do livro homônimo do escritor. A obra é constituída por uma série de quadros cuja base é feita de jornais opacos, que sustentam  imagens e o texto do poeta. A mescla entre suporte e mensagem também dá o tom na obra de Arlindo Daibert presente na mostra. O artista utiliza as páginas da “Imitação de Cristo” como suporte para pintura de diversos ossos.

Confira algumas obras da mostra

Arlindo Daibert – sem título Técnica Mista

Leonino Leão Sem Título – Técnica Mista

Já em  “O Queijo” de Liliza Mendes, também inspirado num poema, a temática da natureza material vem à tona junto com o questionamento do uso e do lugar das coisas. A obra é uma espécie de ready made e ressalta aspectos estéticos e ornamentais de uma velha queijeira. A materialidade também aparece traduzida no trabalho de Paulo Miranda que, influenciado pela Arte Povera italiana,  utiliza uma lona como suporte para diferentes texturas e desenhos. A tentação do toque é inevitável diante da peça.

Por sua vez em  “300 Santos”,  Hélio Siqueira transfigura em barro esculturas de cerâmica inspiradas na iconografia religiosa barroca e chama atenção para  a rusticidade da matéria. Na mostra estão expostas 18 peças da série que retrata santos populares como São Roque e obras sacras famosas como a “Pietá” de Bernini. Nas peças de Valéria Faria, Ricardo Cristófaro e Maurício Bentes são esculturas icônicas que tratam o metal pesado como matéria-prima da arte e complementam o sentido de contemporaneidade presente na mostra.  A exposição traz ainda o colorido e geometrismo característico de Leonino Leão e a precisão técnica e sensibilidade de tom nas litografias de Fayga Ostrower.

Nas palavras de um dos curadores da mostra, Afonso Rodrigues,  “as aquisições são uma reverência ao poeta que montou sua coleção a partir de seu olhar atento, descobrindo novos e importantes artistas, antes mesmo de sua projeção. A mostra dá sinal que Museu mantém este espírito e busca o que há mais interessante visionário na arte contemporânea”. Com curadoria conjunta de Afonso Rodrigues, Aloísio Arnaldo, Raquel Barbosa, Thiago Berzoini e Valtencir Almeida, a exposição fica em cartaz no MAMM, até junho.

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