Exposição "Entre a foto e o fato" homenageia poeta e relembra vida cultural juiz-forana dos anos 80

Um capítulo importante da história cultural de Juiz de Fora é recontado, através do ângulo de um de seus personagens, o poeta

Mauro Fonseca, na exposição “Entre a foto e o fato” e no livro “Entre o aborto e o parto” com abertura e lançamento marcados para próxima quinta, 21, às 19h, no Museu de Arte Murilo Mendes.

O período de que tratam os dois trabalhos é a década de 80 na cidade, na qual a resistência política à ditadura miIitar dava o tom das ações culturais em diversos âmbitos: teatro, cinema, artes plásticas e, sobretudo, literatura.

Frutos do empenho do filho do artista, o jornalista Mauro Morais, tanto o livro, uma antologia dos trabalhos do escritor, quanto a mostra, uma coletânea de arquivos pessoais e de publicações da época, revelam a trajetória e a obra de Mauro Fonseca, que se confundem com um dos momentos mais importantes da vida cultural da cidade.

Celebrando o lançamento, acontece a mesa “Encontro: Geração da poesia de Juiz de Fora em 1970 e 1980”, com os poetas Fernando Fiorese, Edmilson de Almeida Pereira e Júlio Polidoro, mediada por Mauro Morais.

A exposição

Na mostra “Entre a foto e o fato”, a galeria Poliedro transforma-se numa cápsula do tempo e volta à Juiz de Fora da década de 80. As paredes do espaço estão dedicadas, por um lado, ao arquivo pessoal do artista, com imagens, manuscritos originais, e alguns documentos que atestam sua atividade literária. Esta parte da mostra dá dimensão dos esforços empreendidos pelos artistas da época para realizarem suas atividades.

Em outra parede, a galeria recebe um espaço inteiro dedicado às revistas Abre Alas e D’Lira, as quais Mauro Fonseca ajudou a fundar e participou com textos seus. Nesta seção, além de números das publicações, acompanham fotos de Humberto Nicoline das ações culturais, promovidas pelos idealizadores, que agitavam o Parque Halfeld com saraus e apresentações musicais.

 

As publicações ficaram conhecidas por revelar nomes importantes da lavra literária juiz-forana que anos mais tarde ficaram conhecidos nacionalmente como: Luiz Ruffato, Iacyr Anderson Freitas, Fernando Fiorese, Edmilson de Almeida Pereira, entre outros.

Ainda na época da circulação, as revistas chamaram atenção por apresentar trabalhos com forte conteúdo de contestação ao governo militar e, devido à qualidade, chegaram a atrair a participação de grandes nomes da cena poética brasileira como Adélia Prado e Paulo Leminski.

A exposição também guarda uma homenagem a Murilo Mendes feita pela D’lira. Nas datas comemorativas, as duas publicações relembravam a vida e a obra do maior poeta da cidade. “Acho interessante destacar a importância que o Murilo Mendes teve para essa geração. Até então, o Murilo era visto como um poeta que deixou Juiz de Fora e foi morar no exterior. Foi por iniciativa desse movimento da Abre Alas e da D’Lira que ele [Murilo Mendes] passou a ser encarado com um artista que não abandonou a cidade, mas a levou consigo”, explica Mauro Morais.

Entre o aborto e o parto

Na antologia “Entre o aborto e o parto” (Funalfa, 2015) organizada por Mauro Morais, constam os dois livros de Mauro Fonseca

publicados em vida, “Não sou náufrago na ilha de ninguém” e “Não há sinal de porto algum”, além de outros 250 poemas inéditos. Nos trabalhos que formam grossa lombada de mais de 450 páginas, o verso livre predomina e os temas falam, ao mesmo tempo, da circunstância política e social e da repercussão desses acontecimentos na alma do autor.

Destaque na obra são também os dois textos do filho e organizador Mauro Morais. Há uma introdução em que Morais conta a história dos movimentos da Abre Alas e da D’Lira e do grau e do modo de participação de seu pai, Mauro Fonseca, neles. Contudo, é no texto de abertura, “As palavras resistem à corda”, que está prenunciado o valor e o significado tanto do livro quanto da exposição.

Diz Mauro, o filho, num trecho: – “…Coloco-me nu em minhas profundas dores para dizer que quaisquer leituras não dão conta de apresentar um poeta que também é pai. Um escritor que fez em sua pena construção da paternidade.”

Nascido quatro meses após o falecimento do pai, o meio pelo qual Mauro Morais travou conhecimento e intimidade com Mauro Fonseca foi através de sua obra. Se a morte física separou pai e filho, a literatura os reuniu. Eis o poder da palavra.

Serviço

Lançamento do livro “Entre o aborto e o parto” Autor: Mauro Fonseca | Organização: Mauro Morais Edição: Funalfa Edições, 2015 Data: 21 de maio (quinta-feira) Horário: 19h Exposição “Entre a foto e o fato” Abertura: 21 de maio (quinta-feira) Previsão de Encerramento: 14 de junho (domingo) Horário: 19h Visitação: de terça a sexta, das 9h às 18h sábados, domingos e feriados, das 13h às 18h Local:Rua Benjamin Constant, 790, Centro – Museu de Arte Murilo Mendes Entrada Franca Outras informações: 3229-9070