Museu de Arte Murilo Mendes | MAMM
O pianista, regente e professor André Pires, cuja trajetória está intimamente ligada à Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), é o astro do Musicamamm neste domingo, 20 de dezembro, às 17 horas, pelo Canal do Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) no YouTube. Trata-se do último concerto virtual do projeto em 2020, homenageando os 15 anos de fundação da instituição museal. A apresentação on-line, totalmente gratuita, reverencia a obra do maestro Francisco Valle, especialmente cara à memória afetiva da coletividade brasileira.
Conhecido por suas apresentações, pela docência no curso de Música do Instituto de Artes e Design (IAD) e pelo tempo dedicado ao Coral Universitário em um período de grande efervescência, Pires explica que a peça musical escolhida, cuja performance é inédita, chama-se “Bitu”. “São cinco micro variações, que têm como tema uma melodia folclórica brasileira muito conhecida no século XIX, ‘Vem cá, Bitu’, sendo que, no século XX, foi anexada outra letra à mesma melodia, ‘Cai, cai, balão’ ”, assinala.
Pires registra o orgulho de ser o anfitrião de Francisco Valle na comemoração dos 15 anos do Mamm. “É um orgulho tão grande ou até maior do que quando apresentei a Alma Brasileira de Villa-Lobos e a Balada opus 23 de Chopin. no dia 20 de dezembro de 2005, na inauguração do Museu. Tudo leva a crer que a performance pública de Bitu, na celebração do décimo quinto aniversário do Mamm, seja a estreia mundial desta brasileiríssima obra do juiz-forano Francisco Valle”, empolga-se.
Justa homenagem
“Francisco Valle é nome de uma rua em Juiz de Fora, logradouro que nasce atrás da Catedral, na praça do Cruzeiro, e desemboca na rua Rei Alberto. Trata-se de um músico maior, com facetas como compositor, pianista, professor, organista, regente e pesquisador que estudou com o grande César Franck, em Paris, durante quatro anos, entre 1887 e 1890”, conta Pires, que valoriza o trabalho do artista, investigando-o com a intenção de resgatar seu rico repertório pianístico.
Pires relata que Francisco Valle nasceu em 1869, no antigo distrito juiz-forano de Porto das Flores. Em uma trágica contingência, o compositor morreu no centro da cidade, em 1906, depois que, numa forte crise depressiva, atirou-se no rio Paraibuna, utilizando-se da ponte do Botan’água, atual ponte Carlos Otto, na entrada do viaduto que interliga a avenida Independência com o bairro Poço Rico.
“Quando, em 1945, Villa-Lobos fundou a Academia Brasileira de Música, tendo por modelo a Académie Française, Francisco Valle foi escolhido como patrono da cadeira de número 33. Tal honraria mostra o prestígio e o reconhecimento que tinha o juiz-forano já decorridos 40 anos de sua morte. Entretanto, veio a ser acusado de “compositor europeu” pelos pós-modernistas, por conta de sua linguagem composicional. Devido a isso, seu repertório foi injustamente condenado ao ostracismo e esteve ausente dos palcos por decênios”, explica.
Em sua tese de doutoramento em Música, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (Unirio), Pires elegeu dois mineiros, Francisco Valle e Presciliano Silva, este de São João del-Rei, como focos de sua pesquisa, a fim de resgatar o repertório de ambos para piano. “Entre as principais obras de Valle, estão as Cinco Variações sobre o tema folclórico Bitu, as quais foram lidas por mim a partir da cópia inédita do rascunho manuscrito da partitura, que se encontra no Arquivo Mineiro em Belo Horizonte. São elas: 1. Valsa, 2. Marcha Heróica, 3. Noturno, 4. Marcha Fúnebre, e 5. Presto final”.
Revisita possível
O Musicamamm já tem sua playlist deste ano no Canal do Museu, no YouTube, com as apresentações realizadas desde setembro. Estão disponíveis as interpretações de Marcelo Magaldi (que teve participação de Léo Silva dentro da programação da XIV Primavera do Museus), da banda Muamba, da pianista Roxane Beatriz e do maestro André Pires a partir do dia 20. A agente de cultura e lazer do Mamm, Carmem Mattos, fala da importância de explorar o espaço virtual em tempos de pandemia, a fim de divulgar o trabalho de artistas que têm uma trajetória já consolidada, ao mesmo tempo em que preenche a lacuna deixada pelo distanciamento social. “Trata-se de uma importante oportunidade de dar ao público a chance de conferir ou revisitar os concertos do projeto após as datas de lançamento”.