Museu de Arte Murilo Mendes | MAMM

Um estudo do ciúme em Machado de Assis

Livro sobre o ciúme na literatura de Machado de Assis, de Darlan Lula, tem lançamento virtual no próximo dia 16, no Museu de Arte Murilo Mendes

Obra analisa procedimento utilizado por um dos principais autores da literatura brasileira, demonstrando como o ciúme é utilizado para envolver leitor

O ciúme precede a traição e, se sobre o casal Capitu e Bentinho pairam dúvidas quanto ao adultério, Machado de Assis não dissimulou os ciúmes do marido na relação. É ele, o ciúme, o motor de sua obra-prima “Dom Casmurro” e, também, de muitos outros de seus escritos. A tese da centralidade do ciúme nas narrativas machadianas é defendida no livro “Um estudo do ciúme em Machado de Assis: as narrativas e os seus narradores” (Editora Dialética, 176 páginas), que o escritor e doutor em literatura Darlan de Oliveira Lula lança nesta quinta, 16 de setembro, às 19h, em live transmitida pelo canal do Museu de Arte Murilo Mendes. Participam do evento, ainda, o prefaciador do livro, Leandro Ribeiro, e o jornalista Mauro Morais, que mediará a mesa. De linguagem clara e acessível, a obra analisa a produção de um dos mais importantes autores da literatura brasileira, destacando dois de seus livros, “Ressurreição”, de 1872, e “Dom Casmurro”, de 1899.

“Quando Machado aborda o ciúme em vários de seus contos, e em seus romances, ele vai além e trabalha isso do ponto de vista do criador. É a partir dessa construção que suas narrativas ganham força, porque o leitor começa a mergulhar na obra segundo os alicerces narrativos construídos pelo narrador. E Machado tem a exata noção disso; ele sabe os meandros a serem trilhados para que a leitura ganhe em expectação e suspense, angariando cada vez mais leitores. Ao mesmo tempo em que é uma enorme reflexão sobre o próprio ser humano e como ele lida com suas angústias, seus traumas, seus tormentos interiores”, pontua Darlan sobre um ciúme que ultrapassa o status de sentimento para se tornar procedimento. “É uma ferramenta para que a narrativa ganhe em substância, se torne pujante, instigante aos olhos do leitor. Assim, o ciúme deixa de fazer parte da história em si, para se tornar personagem principal na construção da narrativa.”

Ainda que central na literatura machadiana, o ciúme de que fala o pesquisador ganha contornos particulares em cada uma de suas narrativas. O Bruxo do Cosme Velho, como ficou conhecido, seleciona com método e perspicácia a voz que guiará suas histórias. São esses narradores, que ora revelam e ora escondem fatos, que retratarão o ciúme na perspectiva do envolvimento do leitor, permitindo ou não que ele acesse a integralidade das cenas. “Pode ser um narrador onisciente (quase um deus demiurgo); um que participa da história diretamente; o próprio ciumento; enfim, cada um deles vai se comportar de uma maneira dentro da narrativa. E aí vem a maestria do nosso bruxo, porque ele consegue dar vida a cada uma dessas personagens que estão descritas e criadas no papel. O ápice é quando, na leitura, Machado consegue suspender o leitor a tal ponto que, se bobear, o próprio leitor vira, sem saber, uma marionete nas mãos do escritor”, observa Darlan, organizador da coletânea “Machado de Assis: atemporal”, lançada pelo Selo Mamm, do Museu de Arte Murilo Mendes, em 2012.

Um microcosmo da sociedade

Em prefácio de “Um estudo do ciúme em Machado de Assis: as narrativas e os seus narradores”, Leandro Ribeiro destaca que tanto Félix e Lívia, de “Ressurreição”, quanto Bentinho e Capitu, de “Dom Casmurro”, são casais formados por homens inseguros e mulheres singulares “que ajudam a compreender muito da alma humana nesse aspecto tão demasiado humano, o ciúme”. Para traçar sua análise, Darlan de Oliveira Lula lança mão das teorias do filósofo russo Mikhail Bakhtin. “Foi fundamental para que tivéssemos a percepção de que, embora Machado tenha se utilizado, muitas vezes, de narradores parciais e repletos de intenções de convencimento dentro da narrativa, conseguiu desenvolvê-la criando na estrutura da narrativa recursos linguísticos que deixam enormes brechas e lacunas a serem preenchidas por um leitor mais perspicaz, reproduzindo na obra um microcosmo do que é a sociedade: plural, multifacetada e complexa”, explica.

Nascido na Academia, no doutorado em literatura comparada feito na Universidade Federal Fluminense, a UFF, o livro, como ressalta o prefaciador, não reproduz um “academês”. Pelo contrário, mostra-se interessado em fazer-se entender, como uma investigação sensível e delicada. Parte disso se deve ao fato de o próprio pesquisador ser, também, um contador de histórias. Autor de dois romances “Viera tarde” (2005) e “Desvios” (2008), Darlan também escreveu os poemas de “Casa de madeira” (2015), além das coletâneas de contos “Pontos, fendas e arestas” (2002) e “Todos os dias” (2016). “Com Machado de Assis e com a análise em torno de sua escrita, eu pude perceber melhor como escrever meus próprios livros”, reconhece.

O livro “Um estudo do ciúme em Machado de Assis: as narrativas e os seus narradores” pode ser adquirido pelo site da Editora Diáletica.

SERVIÇO

Lançamento virtual de

“UM ESTUDO DO CIÚME EM MACHADO DE ASSIS: As narrativas e os seus narradores”, de Darlan de Oliveira Lula

Live com o autor e com o prefaciador da obra Leandro Ribeiro. Mediação do jornalista Mauro Morais Nesta quinta, dia 16 de setembro, às 19h, no canal do Museu de Arte Murilo Mendes