Realizado no início de outubro, o 2º Seminário Museu de Arte Murilo Mendes: pesquisa, preservação e difusão consolidou-se como um importante evento da programação anual do MAMM/UFJF. Agora previsto no Programa de Pesquisa da instituição, disposto em seu Plano Museológico, o evento seguiu promovendo o debate, a reflexão e a divulgação de temas relevantes à cadeia operatória dos museus.
Pela primeira vez, o Seminário MAMM abriu a oportunidade para que pesquisadores de todo o país pudessem inscrever suas pesquisas, resultando em 24 trabalhos selecionados e na consequente adição de uma quinta mesa temática. Além disso, o Seminário contou com um crescimento de cerca de 34% no número de ouvintes inscritos em relação ao ano passado. “A realização do 2º Seminário MAMM revelou avanços significativos, seja pela qualidade temática das pesquisas acadêmicas apresentadas, seja pelo crescente e relevante número de participantes, entre professores, pesquisadores e público em geral”, avalia o superintendente do MAMM/UFJF, Aloisio Castro.
Temas fundamentais
O 2º Seminário MAMM apresentou palestras que abrangeram questões prementes e realizações notáveis nos campos da Museologia e da Conservação-Restauração. Inaugurando a programação, o diretor da Escola de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), professor doutor Ivan Coelho de Sá, abordou o processo de criação e institucionalização do Núcleo de Memória da Museologia no Brasil (NUMMUS) do CCH/UNIRIO. Em seguida, a coordenadora do Laboratório de Pesquisas e Estudos para a Conservação e Restauração de Esculturas (LaPECRE) da EBA/UFRJ e conservadora-restauradora de esculturas do Museu D. João VI da EBA/UFRJ, professora doutora Benvinda de Jesus Ferreira Ribeiro, apresentou as ações para a conservação-restauração de obras do acervo do Museu D. João VI. Finalmente, o especialista em Gestão Cultural e mestre em Memória e Acervos, Douglas Fasolato, relatou sua experiência na gestão de museus e coleções no estado do Rio de Janeiro.
Complementando ainda mais os debates do evento, duas conferências aprofundaram as discussões sobre a expografia em museus. O professor do departamento de História da UFJF e do Programa de Pós-graduação em História da UFJF (PPGH/UFJF) e editor associado da Revista de História da Arte e da Cultura (IFCH/Unicamp), Martinho Alves da Costa Junior, teceu notas sobre a expografia atual do Museu de Arte de São Paulo (MASP). Por sua vez, a professora do Instituto de Artes e Design da UFJF e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens da UFJF (PPGACL/UFJF), Renata Cristina de Oliveira Maia Zago, refletiu sobre a história das exposições, associando com a história da arte, as escolhas de narrativas e as instituições.
Inovação e ineditismo
Pela primeira vez, o Seminário MAMM ofereceu dois minicursos gratuitos com temáticas importantes e que não possuem cursos específicos na cidade e região: Museologia e Gestão de Riscos. Cada evento contou com a presença de mais de 50 participantes.
O museólogo e desenvolvedor do sistema CONCLIMAWEB, que realiza a análise de risco para a ambiência museológica, professor doutor Antonio Carlos dos Santos Oliveira ministrou o minicurso Gestão de Riscos para o Patrimônio Cultural. Na atividade, foram apresentados o conceito de Risco e as tipologias de Riscos que incidem na missão da preservação do Patrimônio Cultural. De acordo com o pesquisador, o maior obstáculo para a implantação da Gestão de Riscos nas instituições culturais e museológicas do Brasil é a dificuldade de recursos humanos. “Muitas vezes o profissional deve se desdobrar em várias funções levando a uma sobrecarga de atividades. É necessário ter um comitê de caráter interdisciplinar para definir as regras da gestão de riscos em função do patrimônio cultural”, explica.
Durante o minicurso, Oliveira falou sobre a abordagem canadense Método ABC, que identifica, avalia e quantifica a magnitude de Riscos. “Este método é de difícil implantação, mas, após a determinação das regras de gestão, torna-se fácil a sua manutenção. Então, cada passo do processo de implantação e manutenção deveria ser divulgado em forma de boletins: diários, mensais ou anuais. É importante garantir o treinamento da identificação dos riscos para o patrimônio cultural para toda a equipe do museu, no intuito de estabelecer o relacionamento do valor cultural do patrimônio e da possível perda de valor em função da possibilidade de ocorrência de um incidente”, pontua.
Por sua vez, o museólogo Lucas Rodrigues de Barros apresentou o minicurso Conceitos e práticas em museologia para museus no presente. A partir desse tema, a atividade buscou construir reflexões sobre a participação social, perspectivando o protagonismo dos diferentes sujeitos envolvidos nestes espaços. Barros considera que um dos grandes desafios dos museus universitários é ir além da democratização de acesso para a sociedade. “Nas últimas décadas, o movimento dos museus e das universidades buscou uma diversificação dos seus públicos por meio dessa democratização; nos museus podemos elencar as políticas de gratuidade, as questões de acessibilidade física, entre outras, já nas universidades, as políticas de cotas raciais e os auxílios que “garantem” uma permanência dos discentes. Mas, promover o acesso é suficiente? Atualmente, o debate está pautado na democracia cultural, que seria também a promoção do acesso e, além disso, a oportunidade de protagonizar decisões, ecoar vozes, questionar hierarquias e pleitear lugares de destaque por indivíduos que estiveram sempre à margem, mas que possuem práticas, saberes, ciências e pedagogias tão relevantes quanto àquelas convencionalmente ensinadas”, esclarece.
Barros considera que o Plano Museológico, previsto na Lei do Estatuto dos Museus, é basilar para a vida funcional de uma instituição que se pretende museu. O documento traça como uma instituição museológica se caracteriza, por meio de um diagnóstico que delimita sua missão, objetivos estratégicos e os programas que compõem a tessitura organizacional proposta. “o Plano Museológico deve ser pensado por uma equipe multidisciplinar, de preferência envolvendo membros de todas as áreas que compõem o museu, e deve ser também um processo de escuta e discussão. É a partir desse encontro de expectativas e perspectivas, que se traça um diagnóstico para amarrar propostas palpáveis”, conclui.
Intercâmbio de conhecimentos
Veja o que o público do 2º Seminário Museu de Arte Murilo Mendes: pesquisa, preservação e difusão tem a dizer sobre o evento:
“Recentemente participei do 2º Seminário MAMM. Com programação intensa, contou com conferências e minicursos, oferecendo oportunidade de aprendizado e aumento de conhecimentos para muitos estudantes, pesquisadores e público interessado. Essas atividades, quando desenvolvidas pelos museus, mostram que, ao contrário do que alguns pensam, museu não é instituição do passado, repetitiva, morta. Os museus são agentes de transformação da sociedade, ativando conhecimentos e propiciando reflexões sobre o mundo”.
Cecy Barbosa Campos, presidente da Academia Juiz-forana de Letras
“Participar do 2º Seminário MAMM foi importante para adquirir conhecimento, além de ter a oportunidade de compartilhar ideias e informações com participantes de outras instituições. Foi também a chance de fortalecer os laços entre agentes culturais da área museológica”.
Franciane Lúcia Zimmermann, conservadora-restauradora de bens culturais do Forum da Cultura/UFJF
“O cuidado e a sensibilidade com que foi elaborado e proposto o 2º Seminário MAMM foi sentido não só pelos alunos da UFJF, mas também por profissionais e leigos interessados em conservação, preservação e difusão de patrimônios artísticos. Gerando acesso a profissionais altamente gabaritados em museologia, história, artes e afins, a UFJF foi mais uma vez qualificada em excelência naquilo que ela já é tradicional: integração social”.
Heloisa Bertolin, responsável pelo Acervo Asas da Imaginação, Santos Dumont-MG
“O 2º Seminário MAMM é muito importante para o público acadêmico, mas também para qualquer pessoa que tenha interesse em conhecer novas pesquisas, um pouco mais sobre o museu e, até mesmo, do patrimônio cultural de Juiz de Fora. Eu gostaria de destacar a divulgação das pesquisas e o minicurso que tivemos sobre Museologia. O curso veio reafirmando e, também, desconstruindo certas ideias que são cristalizadas sobre o que é um museu e qual a sua missão. Foi engrandecedor e muito enriquecedor para quem se interessa pela temática do museu como tema expandido”.
Marcos Vinícius Amato, aluno do PPGACL/UFJF