Os registros do apartamento em que Murilo Mendes viveu em Roma, em fotos e vídeos, mostram paredes altas repletas de obras de arte. A historiadora Luciana Stegagno Picchio, grande amiga de Mendes, escreveu sobre isto: “Todos estes quadros, (…) , antes de serem quadros eram amigos”. Amigos tão bem retratados pelo poeta em seus derradeiros escritos e publicados no livro A invenção do finito.
Doze destes amigos estão reunidos na exposição Murilo Mendes: o poeta brasileiro de Roma, em cartaz na galeria Poliedro do Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM/UFJF). Obras de Antonio Corpora, Giuseppe Capogrossi, Piero Dorazio, Mario Padovan, Achille Perilli, Gino Severini, Giulio Turcato, Michelangelo Conte, Cosimo Carlucci, Gastone Biggi, Alberto Magnelli e Nino Franchina estão lado a lado com textos de Murilo Mendes sobre cada um dos amigos-artistas.
“Murilo Mendes passou os últimos anos de sua vida em Roma, amando aquela cidade e ligado aos grandes artistas da época. Este núcleo italiano evidencia a evolução e uma tendência no gosto estético de Mendes. A partir dos escritos, é possível observar, além dessas relações de afeto, o trabalho do poeta como crítico de arte”, explica o responsável pela Divisão de Expografia do MAMM/UFJF, Paulo Alvarez.
A exposição reúne, em suas obras, uma variedade de técnicas: “temos a arte cinética de Carlucci e Biggi, o abstracionismo de Magnelli, o cromatismo de Corpora. A maioria desses artistas estiveram envolvidos na criação do grupo Forma 1, responsável pela introdução das poéticas abstracionistas e construtivistas na Itália. É um rico acervo e, com certeza, o lote mais coeso da Coleção Murilo Mendes”, pontua Alvarez.
O título da mostra faz referência ao livro homônimo de Maria Betânia Amoroso. Editado pelo Selo MAMM e publicado pela Editora Unesp em 2013, é resultado de uma longa pesquisa realizada pela autora entre os anos de 2001 e 2009. “Toda ela girou ao redor da figura de Murilo Mendes e da leitura de sua obra por críticos, leitores casuais e jornalistas italianos. Foi feita em bibliotecas e arquivos, onde os vestígios de Murilo ficaram registrados por escrito ou foram lembrados em conversas e entrevistas com pessoas – as poucas ainda vivas – próximas ao poeta na sua estadia romana de 1957 a 1975”, escreve a autora na apresentação da publicação.
A exposição acontece enquanto parte expressiva da Coleção Murilo Mendes é apresentada na mostra Murilo Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo, no Museu de Arte Moderna de São Paulo, e o MAMM/UFJF comemora novas aquisições arquivísticas relacionadas ao período em que o poeta juiz-forano viveu em Roma e que serão apresentadas ao público em uma mostra que está sendo preparada pela equipe do Museu.
Murilo Mendes: o poeta brasileiro de Roma é a primeira mostra do MAMM/UFJF com audiodescrição disponível para todas as obras. O recurso pode ser acessado pelo celular, através de QR Codes localizados ao lado de cada trabalho. A ação faz parte do Programa de Acessibilidade Universal do Museu, disposto em seu Plano Museológico.
Após cumprir missão cultural na Europa no início da década de 1950, Murilo Mendes muda-se para a Itália e passa a atuar como professor de Cultura Brasileira na Universidade La Sapienza de Roma e na Universidade de Pisa. Em 1964, retorna ao Brasil para selecionar obras para 32ª Bienal de Veneza. Nos anos de 1970, naquele país, recebe o Prêmio Internacional de Poesia Etna-Taormina e o Prêmio Internacional Viareggio-Versilia. Morre durante viagem a Lisboa, em 13 de agosto de 1975.