Iniciando o ano em que comemora duas décadas, o Museu de Arte Murilo Mendes apresenta, na galeria Retratos-Relâmpago, a exposição Murilo Mendes: para ligar o eterno ao tempo ido. Organizada como uma vasta colagem de memórias, a curadoria reúne textos do poeta, publicações em jornais e revistas, correspondências trocadas com amigos e pesquisadores, além de homenagens que reforçam a importância de sua obra no cenário cultural brasileiro e internacional.
Tomando como uma das referências poéticas uma carta da poeta portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen endereçada à Mendes, a mostra propõe uma reflexão sobre a saudade como um elo que transcende o tempo e o espaço, reafirmando a presença viva do poeta na memória literária e cultural. A seção de cartas apresenta, além desta, correspondências endereçadas aos escritores Laís Corrêa de Araújo, Guimarães Rosa e Homero e Daniel Roma.
Novíssimo Orfeu
Vou onde a Poesia de chama.
O amor é minha biografia
Texto de argila e fogo.
Aves contemporâneas
Largam do meu peito
Levando recado aos homens.
O mundo alegórico se esvai,
Fica esta substância de luta
De onde se descortina a
eternidade.
A estela azul familiar
Vira as costas, foi-se embora…
A Poesia sopra onde quer.
Murilo Mendes
Murilo Mendes: para ligar o eterno ao tempo ido perpassa aspectos como a relação do poeta com a Espanha, sua atuação como crítico de arte e a vida em Roma. Imagens do apartamento em que morava com a esposa Maria da Saudade na Via del Consolato, desvelam a intimidade do casal e exibe sua coleção de obras de arte: uma delas, a serigrafia de Hans Arp intitulada Le voilier dans la forêt, está destacada ao lado das fotografias.
O trabalho de Arlindo Daibert na mostra artística Murilo Mendes: o olho armado, realizada 10 anos após a morte do poeta, também é destaque na exposição. O artigo publicado à época no jornal Tribuna de Minas evidencia a proposta da exposição realizada no Museu da Cidade, que ocupava o local onde hoje funciona o Espaço Cidade: “um exemplo de como artes plásticas e literatura estão interligadas intimamente na poesia de Murilo, seja na plasticidade de suas imagens (como já registraram os estudiosos), seja pelo poeta ter desenvolvido uma intensa atividade de crítico, dado ainda desconhecido pelo público”.
“Esta exposição revisita a originalíssima contribuição de Murilo Mendes para a literatura, evidenciando sua permanência e atualidade”, avalia o responsável pela Divisão de Expografia do MAMM e curador da mostra, Paulo Alvarez. Recortes da produção muriliana perpassam, ainda, fotografias, textos e obras de arte inspiradas na obra do poeta.