Em Juiz de Fora, exibições acontecem entre os dias 4 e 12 de novembro
O cinema que conta, os Mestres que inspiram: este é o tema da 20º Festival de Cinema Italiano no Brasil, evento que celebra a rica tradição cinematográfica italiana e promove o intercâmbio cultural entre Brasil e Itália. Em Juiz de Fora, o Museu de Arte Murilo Mendes recebe, mais uma vez, uma seleção de 14 filmes inéditos e clássicos que integram a curadoria do festival. As exibições acontecem entre os dias 4 e 12 de novembro, de terça-feira a domingo, com entrada gratuita e sessões legendadas.
“Este ano celebramos uma data histórica: os 20 anos do Festival de Cinema Italiano no Brasil, um projeto que nasceu com a missão de difundir a cultura italiana através de seu cinema e que hoje é reconhecido como o maior evento dedicado ao cinema italiano na América Latina”, avalia a diretora e curadora do festival, Erica Bernardini.
A sessão retrospectiva deste ano destaca o trabalho de diretores que transformaram a linguagem cinematográfica e deixaram um legado que inspira as novas gerações. Segundo a curadora, as obras de Vittorio De Sica, Bernardo Bertolucci e Mario Monicelli, entre outros, ajudam a compreender como o cinema italiano tornou-se uma referência em sensibilidade estética e força política.
Os filmes inéditos, trabalhos de diretores emergentes e consagrados que exploram questões contemporâneas, como identidade e transformações sociais. Entre os destaques, estão os vencedores do prêmio Nastri d’Argento em 2025: Diamante, de Ferzan Ozpetek (Filme do Ano), As provadoras de Hitler, de Silvio Soldini (Diretor de Elenco), e Hey Joe, de Claudio Giovannesi (Som).
15h | A vontade de um general (Uomini contro)
Direção: Francesco Rosi. 1970. 101min. Drama/Guerra.
Baseado em fatos da Primeira Guerra Mundial, o filme é uma denúncia contundente da desumanidade e do absurdo das ordens militares nas trincheiras italianas. No norte da Itália, um batalhão enfrenta um impasse sangrento sob o comando do inflexível General Leone, que insiste em táticas obsoletas e mortais, como ataques frontais contra metralhadoras e estratégias medievais. Em meio a um cenário de sofrimento, medo e mortes em massa, o jovem Tenente Sassu passa a questionar a autoridade superior e o próprio sentido da guerra, enfrentando um doloroso conflito entre a obediência cega e a consciência moral. Um poderoso manifesto antimilitarista sobre os horrores da guerra.
19h | A ilusão (L’Abbaglio)
Direção: Roberto Andò. 2025. 131min. Drama/Histórico.
Em 1860, durante a Expedição dos Mil, Giuseppe Garibaldi enfrenta o poderoso exército Bourbon enquanto tenta conquistar Palermo. Quando tudo parece perdido, confia ao coronel Orsini um plano engenhoso: simular uma retirada com um grupo de feridos e soldados para enganar o comandante inimigo. Começa então uma arriscada partida de xadrez militar, marcada por manobras inesperadas e um desfecho surpreendente.
15h | Tomara que seja mulher (Speriamo che sia femmina)
Direção: Mario Monicelli. 1986. 120min. Comédia/Drama.
Em uma fazenda na Toscana, Elena vive separada do marido Leonardo, um homem desinteressado e ausente, mais preocupado com a amante Lolli do que com a esposa ou as filhas, Franca e Malvina. Ao lado da irmã Claudia e da empregada Fosca, Elena forma um universo essencialmente feminino, onde o único homem presente é um tio idoso e senil que passa os dias tricotando. Esse equilíbrio delicado é abalado por uma série de crises, revelando a força e a união dessas mulheres diante das adversidades.
19h | Roberto Rossellini, mais que uma vida (Roberto Rossellini, più di una vita)
Direção: Ilaria De Laurentiis, Raffaele Brunetti, Andrea Paolo Massara. 2025. 96min. Documentário.
Em 1956, Roberto Rossellini vive um momento de profunda crise pessoal e artística. Seus filmes mais recentes, realizados ao lado de Ingrid Bergman, fracassaram; o casamento está se desintegrando e a imprensa não perdoa. Quando Bergman decide retornar a Hollywood, Rossellini aceita um convite do primeiro-ministro indiano Nehru para documentar os avanços do país. Com uma mala cheia de dúvidas — e de espaguete — embarca para a Índia em busca de uma nova inspiração criativa e emocional, guiado por uma cultura que equilibra tradição e modernidade. Uma jornada íntima e reveladora sobre o homem por trás do mestre do neorrealismo.
15h | O jantar (La cena)
Direção: Ettore Scola. 1998. 126min. Drama/Comédia.
Em uma noite movimentada em um restaurante italiano, diferentes grupos de clientes — casais, famílias, jovens e idosos, turistas e frequentadores habituais — compartilham suas histórias ao longo do jantar. Sob o olhar atento e acolhedor da anfitriã Flora, o salão se transforma em um palco de confissões, reencontros, desentendimentos e celebrações. A câmera circula livremente entre as mesas, a cozinha e os bastidores, revelando tanto os dilemas dos clientes quanto as pequenas intrigas e aspirações da equipe do restaurante. Um mosaico humano que reflete a sociedade italiana com humor e melancolia.
19h | Hey Joe (Hey Joe)
Direção: Claudio Giovannesi. 2024. 117min. Drama.
New Jersey, Estados Unidos. Dean Barry, um veterano americano que teve uma relação com uma jovem napolitana durante a Segunda Guerra Mundial, retorna à Itália, a Nápoles, no início dos anos 1970, para conhecer seu filho. Dean deseja recuperar os vinte e cinco anos de ausência, mas seu filho já é um homem criado na criminalidade, adotado por um chefão do contrabando, e não demonstra qualquer interesse pelo pai americano. O filme estreou no Festival de Cinema de Roma de 2024 e venceu um Nastri d’Argento.
15h | Os rapazes da Via Panisperna (I ragazzi di Via Panisperna)
Direção: Gianni Amelio. 1988. 110min. Drama/Biografia.
Baseado em fatos, o filme retrata a trajetória de um grupo de jovens físicos italianos de talento extraordinário, conhecidos como “Os Rapazes da Via Panisperna”, liderados por Enrico Fermi. Durante a década de 1930, em Roma, eles realizaram descobertas fundamentais para o desenvolvimento da física nuclear moderna. A narrativa acompanha suas pesquisas, dilemas éticos e conflitos pessoais, destacando a figura enigmática de Ettore Majorana, cujo misterioso desaparecimento em 1938 permanece até hoje sem explicação.
19h | As provadoras de Hitler (Le assaggiatrici)
Direção: Silvio Soldini. 2025. 123min. Drama/Histórico.
Inspirado no romance homônimo de Rosella Postorino, o filme narra a história de um grupo de mulheres forçadas a provar a comida de Hitler para garantir que não estivesse envenenada. No centro, a jovem Rosa encontra-se dividida entre o medo, a sobrevivência e uma inesperada amizade entre as provadoras. Uma história sobre resistência, silêncio e solidariedade feminina em tempos sombrios. O filme obteve 3 indicações e ganhou um prêmio do Nastri d’Argento.
15h | Ladrões de bicicletas (Ladri di biciclette)
Direção: Vittorio De Sica. 1948. 89min. Drama.
Considerado um dos maiores clássicos do neorrealismo italiano, o filme retrata a dura realidade da Itália no pós-guerra, explorando temas como pobreza, dignidade e sobrevivência. Acompanhamos Antonio, um pai desempregado que finalmente consegue um trabalho colando cartazes, mas depende de sua bicicleta para trabalhar. Quando sua bicicleta é roubada, ele e seu filho pequeno percorrem Roma em uma busca desesperada para recuperá-la. Com atores não profissionais e uma narrativa simples, porém profundamente comovente, Vittorio De Sica cria um retrato intenso da fragilidade humana e da luta por respeito e dignidade em meio às adversidades sociais. Sessão seguida de debate mediado por integrantes da equipe do Cineclube Movimento.
15h | Diamantes (Diamanti)
Direção: Ferzan Özpetek. 2024. 135min. Comédia/Drama.
Situado em Roma nos anos 1970 e atualmente, o filme explora a jornada das irmãs Alberta e Gabriella Canova, donas de um renomado ateliê de figurinos cinematográficos, e das habilidosas mulheres que nele trabalham. A trama desenha uma rica tapeçaria de memórias, solidariedade, ambições e desafios, celebrando a força feminina e a arte do figurino no cinema. Özpetek reúne um elenco extraordinário de 18 atrizes italianas em papéis centrais. O filme foi premiado com o Nastro d’Argento na categoria de “Filme do Ano”, recebeu duas indicações e venceu um prêmio David di Donatello.
15h | Antes da revolução (Prima della rivoluzione)
Direção: Bernardo Bertolucci. 1964. 115min. Drama/Romance.
Ambientado em Parma, o filme explora os dilemas ideológicos e existenciais de um jovem burguês entre sua ideologia marxista e o conforto burguês de sua família. Noivo de Clelia, mas confuso após a chegada de sua enigmática tia Gina, ele mergulha em um turbilhão de dúvidas políticas, afetivas e existenciais. Uma obra de juventude em transformação que já antecipa a estética sofisticada de Bertolucci.
19h | Verão na Sicília (Gioia mia)
Direção: Margherita Spampinato. 2025. 90min. Drama.
Nico é um menino inquieto, irreverente e cheio de personalidade, criado em uma família laica, num mundo moderno e hiperconectado. Durante o verão, é enviado à Sicília para passar uma temporada com uma tia solteirona, extremamente religiosa e de temperamento difícil, que vive sozinha em um antigo casarão tomado por lendas e superstições, completamente à margem da tecnologia. Recebido com resistência, Nico é inserido à força em um universo místico dominado por anjos, espíritos e uma fé carregada de magia. O confronto entre o presente veloz e o passado silencioso marca o início de uma convivência turbulenta — mas, pouco a pouco, nasce entre os dois um vínculo profundo que mudará suas vidas. Selecionado para o Festival de Locarno 2025.
15h | Henrique IV (Enrico IV)
Direção: Marco Bellocchio. 1984. 85min. Drama.
Durante uma festa à fantasia ambientada na Idade Média, um homem vestido como o imperador Henrique IV sofre uma queda de cavalo e bate a cabeça, causando-lhe sérias lesões neurológicas. A partir desse acidente, passa a acreditar ser realmente o Rei Henrique IV, vivendo por anos imerso nessa ilusão. A história, adaptada da peça homônima de Luigi Pirandello, é uma intensa reflexão sobre loucura, identidade e a tênue fronteira entre realidade e ilusão, com uma atuação magistral de Marcello Mastroianni no papel principal.
19h | Eterno visionário (Eterno visionario)
Direção: Michele Placido. 2024. 112min. Drama/Biográfico.
O filme retrata um momento crucial na vida de Luigi Pirandello, durante sua viagem de trem rumo a Estocolmo, onde receberá o Prêmio Nobel de Literatura. Entre memórias e visões, Pirandello revive os fantasmas de sua existência: a doença mental da esposa, os conflitos com os filhos, o relacionamento complexo com o fascismo e o escândalo causado por sua arte provocadora. Seu amor platônico por Marta Abba, musa e atriz, revela a fusão entre arte e vida, inspiração e sofrimento. A narrativa percorre Roma, a Estocolmo dos Nobel, a Berlim dos cabarés e a Sicília ancestral — compondo o retrato vibrante de um gênio implacável, um eterno visionário que transformou sua dor em arte.