Museu de Arte Murilo Mendes | MAMM

Olhar A(r)mado

Dialogar com o acervo de artes plásticas de Murilo Mendes apresenta uma série de potencialidades e desafios. Ao lançar-se na rede de sociabilidades do poeta, Guilherme Melich nos convida para um olhar mais atento sobre o legado deixado por Murilo e pelos artistas que o retrataram.

Como poeta, crítico de arte e parte atuante da efervescência artística em meados do século XX, Murilo Mendes frequentou círculos de convivência em que se expandiam os horizontes conceituais, buscando soluções para inéditas problemáticas, oriundas de novas disputas nos diversos campos semânticos das artes.

Visitando o acervo e a atmosfera poética das obras que Murilo Mendes colecionou, principalmente seus retratos, Melich observou características inquietantes no acervo que motivaram o início de sua pesquisa, e, com olhar contemporâneo, iniciou, através da pintura, suas investigações em busca das identidades dos artistas que retrataram o poeta.

Em seu imaginário artístico estimulado pela curiosidade sobre a relação entre os pintores e o escritor, o artista fantasia, diante do processo da pintura, ocasiões em que conversa com os retratados como se estivessem entre amigos, se inserindo em um grupo de vanguardistas que compartilharam e debateram suas crenças sobre o que é importante, atemporal e verdadeiro no fazer artístico.

Nesse sentido, podemos dizer que há algo característico no trabalho de Melich.  Talvez a forma como ele preserva o respeito e a dignidade de se tratar a pintura, em sua plasticidade e sua materialidade, e na atenção e cuidado durante o processo de criação. Talvez  o ato de pintar o  conecte a cada outro artista que, solitário em seu atelier, enfrenta os desafios de tornar sua percepção acessível e sua sensibilidade compartilhada como um rastro de sua existência – lugar onde reside a potência da pintura.

Caminhando rente à abstração em seus retratos, adicionando camadas sobre camadas de pigmento, sua pintura transborda a superfície da tela, e cada quadro forma uma imagem instável, onde seu aspecto escultórico vibra e revela nuances nos olhares dos artistas que um dia retrataram o poeta.

Para Melich, Murilo é o fio que costura essa trama de relações, e a pintura, sua carta de saudações ao poeta.

Frederico Lopes